segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Capítulo 1.5

Primeiro o silencio. Depois:
Esperava minha mãe que já está morta, mas não esperava você me ligando. - Diz o provável George, numa voz que não disfarça rancor.

- Sinto muito pela sua mãe, mas é que eu estou com seu gato.
- O Mushu? Por que você está com ele?
- Eu o achei numa casa amarela.
- Você quer dizer a nossa antiga casa amarela?

 E, de repente, há um silencio muito grande na linha. Daqueles tipos de silencios que são preenchidos por pensamentos que gritam.

- Eu não sei. - eu respondo, com a voz repleta de culpa, porque eu sei que houve um estrago de uma vida ali.
- É claro que não lembra.
- Eu não lembro mesmo. Nem mesmo que seu nome era George, mas a Dona Rosa - que eu nem mesmo sabia que se chamava assim - me disse.

Outro silencio na linha. Inacreditávelmente, ele volta com uma voz segura, com um sorriso escondido do outro lado da linha:

- Não lembra de nada, nada?
- Nada, nadica.
- Então realmente aconteceu o que você dizia... Como se sente?
- Difícil responder - rio.
- A resposta continua a mesma - ele também ri.

Eu quase pergunto o que aconteceu entre nós. Quase. Mas tenho medo da resposta.

- Venha buscá-lo.
- Vou.

E o espero por pouco mais de 15 minutos, sentada na ponta da calçada, segurando e alisando o Mushu. Enquanto duas folhas brincavam no vento no meio da rua e duas crianças passavam correndo e torcendo os pescoços para ver Mushu, um carro grande e preto vem se aproximando devagar pela direita, até parar a 5 metros de onde estou. O para-brisa está refletindo o sol e eu não vejo George até que ele, depois de uma obvia hesitação, sai do carro. É um cara alto, nem magro nem gordo, cabelo preto espalhado na testa e uma pele queimada pelo sol. Ele vem numa falsa corrida com as mãos nos bolsos, fingindo apreciar as árvores acima de nós, até que se senta ao meu lado, com uma intimidade que eu não acho ruim. Mushu pula e encosta seu pelo na barba dele e é aí que o George diz:

- Quanto tempo.
- É... – Eu rio – Eu não sei.
- É claro que não. Eu estou feliz por você, meu bem. - Mais uma dose de uma intimidade que eu não lembro existir, mas que gosto. - Você vai encontrar aquilo que sempre esteve procurando.

Mushu mia e ficamos os dois o olhando, competindo para ver quem o acaricia mais.
- Encontrarei uma coisa boa?
- Você encontrará o que tiver que ser encontrado. Essa definição de bom ou ruim é muito vaga. Frase sua. – ele ri forte.

Ficamos um bom tempo em silencio, nossos braços encostados um no outro, as mãos se encontrando no corpo de Mushu, olhos distantes e pensamentos confusos. Eu analiso a vida e ele provavelmente está sendo assolado por lembranças que antes dividíamos. Olho para as mãos dele e penso se o que aconteceu comigo não é uma injustiça à todos esses que fizeram parte da minha vida. Apagá-los da minha vida, desconhecê-los.

Sem pensar muito, deito minha cabeça no ombro dele. Eu sinto medo e paz. Vontade e falta dela. Sei e não sei. Coragem e falta de coragem. Penso e não chego a lugar nenhum. E sinto que meu tempo com George vai ser ainda mais curto do que já foi algum dia.

- O mundo está disposto à minha frente e eu não sei por onde começar.
- A gente nunca sabe. – ele passa o braço por meus ombros. – Mas você vai dar um jeito. Você é diferente, meu bem. E é por isso que isso tudo está acontecendo com você. É a sua segunda chance. Eu sei que é. É a chance de você ser e ensinar a ser.

Eu brinco com o pelo de Mushu por poucos segundos e analiso o que ele disse, até que pergunto quase com medo:

- Eu te machuquei?
- Nós nos machucamos. A vida dá dessas.

Eu dou um meio sorriso porque por algum motivo sei que aquela última frase é muito usada por aqueles lábios.

- Mushu sentiu saudade. Eu senti. E pelo jeito vamos sentir mais ainda.
- Eu tenho certeza de que eu senti saudade de você quando sabia de tudo.
- Tenho certeza de que sentiu. E você nunca soube de tudo, meu bem. Frase sua. Mas eu sei que você precisava e queria isso. Só torço para que você não piore seu gosto musical. – ele brinca
- Certeza que o ruim é o seu. – Eu continuo a brincadeira, mas ele já está sério novamente, olhando para longe.
- Eu via fogo em seus olhos, meu bem, e agora eu vejo o desconhecido.

E então eu penso que talvez não seja ruim, mas necessário eu recomeçar. Não só pra mim, mas para George e todos os outros. Facilitar para eles a saída de histórias complexas e doloridas. Dar novos caminhos para mim e para eles, mas meu celular toca e o George enfia a mão no meu bolso e olha a tela, interrompendo meus pensamentos.

- É a Ana te ligando. Estava demorando... Volta pra São Paulo por ali – ele aponta para a esquerda da rua. – Você precisa começar bem.
- Ana?
- Eu vou deixar você se encontrar e entender tudo, meu bem. Mushu e eu estaremos esperando. – Ele atende a ligação e passa o telefone pra mim, com uma mulher na linha soltando “alôs”.
- George? – o chamo.
- Sim?
- Cuida direitinho do Mushu.

Ele sorri e para no meio da rua, com a porta aberta, me olhando. Ficamos um tempo assim, esquecendo de todo o resto. Eu penso que queria entender. Não sei o que ele pensa.

- Vou cuidar.

Eu acredito e atendo a Ana. Ela me chama de amiga e começa a falar muito, mas eu ainda estou focada no carro preto indo embora. Ele hesita novamente. Eu torço para ele ir e ele vai.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Capitulo 1.4

Sinto o calor do sol em minha mão e vejo como ele a deixa mais pálida que o normal, depois olho pro resto do comodo... Lixo no chão... Paredes pixadas... De resto vazio. Tento imaginar como era ali antes, como deveria ser até hoje, lembranças não chegam, mas imagino algo bem colorido, assim como a fachada da casa.

Ouço um barulho de garrafa rolando no chão. Assustada pego um pedaço de madeira no chão.

-Olá!? - gritei ao vento, eis que surge um gato preto que parece feliz ao me ver. - Oi amiguinho, vem aqui - digo para o gato e ele se aproxima de mim ronronando.

O gato tem uma corrente com um pingente, nele tá escrito Mushu. Viro o pingente e acho escrito Caso eu me perca ligue pro meu dono 942230413. Pego Mushu no colo e ando pela casa. Ninguém. Então resolvo ligar para o tal número.

Começo a discar em meu celular e aparece um contato salvo com o número GMC "essa mania de colocar só as iniciais nos contatos"  me lembro do Cara Que Não Se Chama Jay dizendo. Droga. Esse gato realmente me conhece e o dono dele também, não posso ligar do meu celular e ter um possível Cara Que Não Se Chama Gê, pois se ele tiver meu número salvo vai saber que sou eu ligando. Quem sabe aquela senhora que sorriu pra mim tenha um telefone em casa.

Então pego Mushu no colo e saio da casa. Caminho até a casa cor de rosa e a visto a senhora ainda ali sentada. Só agora lembro que talvez ela me conheça e que eu deveria saber o nome dela também...

-Dona rosa, já estou indo embora, okay? Deixei a comida pronta em cima da mesa. Até amanhã.
-Tudo bem Maria, até amanhã e bom descanso.

Que irônico, Dona Rosa que mora na casa cor de rosa. Santa seja essa Maria por me ajudar com o nome.

-Oi Dona Rosa!
-Oii Lenna, quanto tempo querida. Olha, você encontrou seu gato.
-Meu gato? - pera, ela me chamou de Lenna?
-Eu sei que ele é do George, mas desde que ele se mudou o gato volta pra cá, como se estivesse te esperando voltar.
-Ah sim, sabe pra onde o Gê se mudou? - Talvez eu até poderia ter um Cara Que Chama Gê Sim
-Gê? Nunca vi vc chamar ele assim, vocês voltaram? - Talvez não
-Não - solto um riso enquanto falo
-Ele não se mudou pra muito longe, mas nai sei te dizer pra onde exatamente, tenho o número dele aqui se quiser.
-Tenho o número dele ainda aqui, mas obrigado Dona Rosa.
-Por nada Lenna, boa sorte e se cuida viu
-Pode deixar, e você também.

Me afasto dela já discando para o George...

sábado, 1 de novembro de 2014

Capítulo 1.3

Tenho vontade de desligar, mas só suspiro. E logo lembro que alguém não gostava de suspiros profundos no telefone, mas não sei quem. Percebo que ele disse "casa" e pela primeira vez desde que abri os olhos e vi o sol, penso nessa palavra e no que ela significa.
Outra vez sinto um nó de sentimentos conhecidos mas sem origem e digo para mim mesma, em voz alta:

- Você vai ter que se acostumar até entender.

Imediatamente, o cara que não se chama Jay se revolta:

- Vou ter que me acostumar com isso, Linda?! Você é uma cretina por me dizer isso. Eu to te esperando há 4 meses pra você vir me dizer que eu vou ter que me acostumar com isso? Eu...
- Quanto tempo eu já esperei por você antes? - minha boca solta, sem eu ter chance para pensar e o interrompo com essa pergunta.

A ligação fica sem nenhum ruído por alguns instantes e quando o Cara Que Não Se Chama Jay volta a falar, tem a voz arrastada.

- Linda... Achei que você tivesse esquecido isso.
- Eu esqueci. Tudo.
- Não parece.
- Mas aconteceu. Até, Cara Que Não Se Chama Jay.

Olho a tela apagada do celular. Ameaço jogá-lo fora, mas não o faço. Apenas o coloco no bolso e ignoro as chamas do Cara Que Não Se Chama Jay, tendo a certeza de que logo elas vão parar.

Um grande fluxo de pessoas começa a passar por mim e eu calculo que deva ser meio dia. Num súbito silencio, me dou conta de que estou murmurando "casa" sem parar, como se estivesse tentando compreender e saborear a palavra. Os pensamentos que se iniciam à sua simples menção são infinitos, mas nenhum deles parece me trazer alguma informação mais precisa sobre mim. Ou onde ou o quê é minha casa. Sinto como se tivesse tendo acesso à uma enorme biblioteca, mas os livros que tenho interesse estão trancados numa sala restrita. A chave? Pendurada no teto. Onde é o teto? No momento não sei como saber e faço um esforço para afastar os pensamentos. Consigo.

Resolvo pegar o tal onibus para Mogi. Passo pela senhora que ajudei e subo depressa. Encontro alguns reais amassados e quando os entrego para o cobrador, ele sorri levemente para mim, como se não me visse há muito tempo. Não dou atenção porque lembro que o Cara Que Não Se Chama Jay disse sobre o bilhete deixado por mim: Volto 5. Eu ainda não sei o que é, mas quando imagino que deixei aquele bilhete para alguém, sinto uma vontade enorme de rir, mas rir com vontade, como um genio ri quando alguém não entende sua obra-prima. Mas eu não sou um genio. Afasto esses pensamentos também. Vou contando as paradas. 1... 2... 3... 4... 5... 10. Levanto e desço. Assim, rápido, sem pensar.

Outra explosão de sentimentos. Eles estão começando a irritar. Faço um outro esforço para esquecer os pensamentos. Parece que já venho treinando esquecê-los há muito tempo.

O lugar não é dos mais bonitos, mas sinto uma sensação boa no peito quando começo a caminhar em direção à uma rua torta e cheia de árvores. Minha cabeça começa a trabalhar tentando encontrar as lembranças que provavelmente tenho dali, mas não acha nada. Rio ao imaginar um neurônio levantando um cartaz que diz "Não tem nada aqui, garota. Mas vá em frente.". Eu vou. Tem uma casa muito velha e uma senhora ainda mais velha sentada na varanda pintada levemente de rosa. Ela levanta os olhos quando sente que passei pela casa e sorri forte para mim. Eu sorrio de volta. Vou passando a mão na mureta cheia de plantas, traçando o caminho torto que me leva, ao fim da rua, à uma casa amarela com uma porta vermelha e um jardim destruído. Pulo um pequeno pedaço de madeira suja e subo os três pequenos degraus, cruzo a varanda e dou um toque na porta. O toque mal ressoa e eu já empurro a maçaneta, ansiosa por algo que eu não sei o que é. Só sinto aquela sensação que se tem quando se entra em casas que já tiveram muitos risos soltos em seu interior. Entro e me viro para uma janela aberta, onde uma cortina leve brinca no vento. Um raio de sol encontra meu rosto e paro quando ele toca meu olho. Há algo ali que, mesmo que eu não saiba o que é, sei que desejei por um longo tempo.

Levanto a mão para tocá-lo.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Capítulo 1.2

E sinto um borbulho no peito. Rio. Não estrago e vou, sem olhar para trás. Quem sabe depois eu volto. E então quando já me distancio o suficiente pra que não consiga mais ver ele, olho pra trás.
Não o vejo, como pensei, mas vejo algo que me intriga. Ônibus, muitos ônibus, então entendo que estou em uma rodoviária. Mas pra onde ir? Não posso apenas vagar sem rumo.

-moça - disse a mulher com uma cara mais confusa que minha - você pode me dizer onde eu pego o ônibus pra Mogi da Cruzes?
- É o quarto ônibus da plataforma 2 - respondi sem ao menos pensar.
- obrigada.

O fato de eu saber daquilo só podia significar que eu ainda tinha acesso as minhas memórias, não se eu tentasse lembrar, era como olhar pelo canto do olho pra resposta vir.
Sinto algo vibrando no bolso e descubro um celular quando levo a mão até ele. Vejo na tela JLOP. "Que raios de nome é esse?" é o que não sai da minha cabeça enquanto atendo.

-alô
-já ta na hora de voltar pra casa né? - responde o homem do outro lado da linha.
-e quem é você pra me dizer quando voltar pra casa? - respondi num tom meio rude sem ter intenção.
-ah Linda, já faz já faz 4 meses e 2 dias que você foi embora e tudo que me deixou foi um bilhete escrito "volto 5", mas mao especificou, 5 horas, dias, meses... - mais um esperando uma resposta, quero desligar, pensar um pouco sozinha, mas talvez ele me ajuda.
-e vc vem esperado esse tempo todo Jay?
- Jay? Você não lembra nem meu nome mais, com essa mania de colocar só as iniciais nos contatos.

domingo, 12 de outubro de 2014

Capítulo 1.1

Ele levanta e me puxa com força, se afasta alguns passos e passa a me olhar: começa de cima, como se quisesse entender quem estava à sua frente. E, muito sinceramente, eu penso que também queria me entender.
Olho o nada ao redor, que no momento pra mim é tudo, e acho graça sem segurar o riso: tenho plena consciência do que é cada coisa que minha vista alcança, mas aí tento lembrar o porquê de eu saber tudo e: nada. Nome da cidade: nada. Do estado: nada. País: nada. Quem sou eu: nada. Essa, pelo menos, eu fico tranquila: acho que ninguém nunca soube quem é.

Sei que deveria estar preocupada e que isso deveria ser um instinto, mas esse desconhecido de mim me dá tranquilidade. Um pensamento de que talvez eu tenha passado muito tempo esperando por isso, esse desconhecido, me aquece o peito e me traz a sensação de que o que estou passando agora se assemelha ao que sente alguém que acaba de acordar de um sono muito profundo. Mas não lembro nem mesmo de ter dormido.

Vejo o cabelo do loiro balançando com o vento e puxo o meu à frente dos meus olhos e penso alto demais:

- Ruivo.
- Como? - o louro perguntou.
- Meu cabelo. Ruivo.
- É. 

Características. Essa palavra vem à minha cabeça e de repente eu sei que ela causa muita tristeza à muitos por aí. Olho minha mão, que me parece conhecida, e tem um anel preto lá. 

- Você quem me deu? - mostro o anel.
- Não. - ele está irritado - Desde que te conheço, você carrega esse anel e esse troço no seu pescoço. - ele enfia a mão na minha blusa e quando a puxa, ela está segurando um cordão longo que está preso em mim.

Os olhos azuis mudam quando encaram o cordão e depois encontram os meus. Meu estômago revira quando sinto que ele está com pena de mim. Não gosto disso. Puxo o cordão da mão dele e sinto que minha feição não é das melhores. Não quero mais aquele olhar sobre mim. E aí paro pra pensar como é que conheço e sinto todos esses sentimentos e não consigo chegar à conclusão, porque ele diz:

- Luna, eu...
- Luna?
- Luna... Eu não quis... Eu não sabia, desculpa.
- Nossa. Luna. - o nome brinca nos meus lábios - Qual é minha idade?
- Vinte. - respondeu revirando os olhos e eu penso que queria um espelho pra me ver e a palavra Características vem na minha cabeça de novo.

Sinto que ele quer continuar aquela conversa, mas não me interessa. A gente fica em silêncio e um, dois, três, quatro pensamentos diferentes começam a tomar conta da minha cabeça e de repente uma vontade sem fim de ir entender a vida toma conta de mim. Quero ir embora e achar o que está espalhado por aí. 

Eu olho pra cima e ele pra baixo. Cruzamos o olhar uma vez e eu olho pra um lado e ele para outro. Depois ele me olha e eu o olho. Ainda sinto pena no olhar dele, mas tem um cuidado tão grande ali que eu seria capaz de jurar que eu já fui muito protegida por esse cara. Meu corpo começa a reagir e me diz pra ir embora. E eu sei que tenho que ir mesmo. Só não sei pra onde.

- Você não lembra mesmo?
- Não.
- Nada? - e eu juro que ele tentou esconder um riso.
- Não. Eu tenho que ir. Volto quando souber seu nome.
- Meu nome é...
- Ei - interrompo - Não estraga o momento.
Ele ri.
- Você tinha falado disso, sempre falou. Engraçado.
- Isso o que?
- Você vai entender. Você sempre faz as coisas acontecerem.
- Mas eu quero...
- Ei. - ele diz - Não estraga o momento.

E sinto um borbulho no peito. Rio. Não estrago e vou, sem olhar para trás. Quem sabe depois eu volto. E então...

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Capítulo 1


Essa não é uma história feliz de fato, na verdade acho que a felicidade é uma coisa superficial, ou costumava achar, mas não lembro ao certo.
Mas espera, quem sou eu? Onde eu estou? E mais importante, quem é esse cara do meu lado com cara de quem ta esperando uma resposta...

-Okay, entendi então. Seu silêncio disse tudo.
-Mas eu não disse nada. Quem é você?
-Já age como se não me conhecesse. Quando você disse que me amava eu fiquei preso naquele momento, acreditando que nunca deixaria de ser verdade, mas hoje eu duvido que tenha sido verdade em algum momento. Hoje que você parte meu coração e aquele eu congelado no tempo se parte em pedaços.
-Calma, cara, não sei nem quem sou eu, não to tentando não te responder seja lá o tenha me perguntado. Que por sinal eu também não me lembro. Pode me falar onde estamos, quem sou eu, que dia é hoje e quem é você?
-É serio isso que você ta fazendo? - disse ele confuso. Ele, mesmo sentado, parecia ser alto, era loiro, com olhos azul piscina e com sobrancelhas grossas, magro demais. Usava uma camisa xadrez de flanela vermelha, calça jeans e um all-star.
-Claro que isso é sério, me ajuda aqui - respondi mais confusa ainda.